
No primeiro domingo do mês de junho, assistindo à TV, fui surpreendida por uma propaganda que me deixou arrepiada:”O Kinder Ovo agora tem pra menino e pra menina”. A divisão sexual se faz através dos brinquedos e brincadeiras sugeridas pelas surpresas do chocolate. Quantas passadas para trás damos com a aprovação de uma propaganda como esta!
O MEC, juntamente com a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República realizaram recentemente um seminário com o título: Meninas e Meninos: brincam do que quiserem. E na contramão dos avanços no processo de formação das crianças, jovens e adultos em nosso país aparece o “Kinder Ovo Sexista”.
Toda a luta pela igualdade de gênero, a busca de novos conceitos e metodologias, derrubando barreiras históricas e culturais entre homens e mulheres, pra um comercial, de apelo infantil, retomar de forma retrocedente que “meninas e meninos não se misturam nas brincadeiras” e mais, reforçar a ideia de que o rosa é de menina e o azul de menino. Deveríamos ter censura para aqueles e aquelas que produzem retrocessos, não?!
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O Kinder Ovo aponta exatamente como a publicidade, de forma machista e sexista, passa sua mensagem e reforça preconceitos. E veja que estes já estão em processo de ruptura com a implantação das novas práticas e metodologias pedagógicas em curso em nosso país. Pergunto eu, porque esta lógica retrocedente neste momento? O que se pretende? Conter avanço das mulheres, meninas da geração Kinder Ovo, mostrando-nos o lugar que reservam para ocuparmos e assim nos influenciar? Redimir os homens diante da falência do machismo, mostrando uma visão e cultura sexista como a forma de conduta ideal?
Não sabem os publicitários que já temos pesquisas que comprovam o quanto as brincadeiras são marcantes na formação das crianças e podem transformar, incluir ou conservar conceitos e valores pra retroceder ou avançar a humanidade? Claro que sabem, não é mesmo! A brincadeira, que apela para o sexismo, onde meninas podem brincar com as coisas que as conduzem ao lar e os meninos com brincadeiras que os levem para o mundo público e do poder está na pauta do comercial. Mas está em desuso como prática de estudos e no sistema educacional implementado no Brasil. Este modelo ainda está impregnado em muitas propagandas, e a Kinder Ovo se superou, trazendo o retrocesso para o ar e para os lares.
A brincadeira, além de socializar, ela deve formar sujeitos mais autônomos, seguros e com habilidades para resolver conflitos, e não para estabelecer e dividir as pessoas, classificando-as pelas habilidades que querem construir em nós, em detrimento das que realmente temos. Por isto, mais que depressa, devemos recusar de forma veemente atitudes como esta, e fazer avançar no Brasil as políticas de inclusão de gênero, para que nenhum menino cresça achando que não deve cuidar da casa, e que nenhuma menina acredite que não nasceu para dirigir, nem o carro, nem a vida. Assim, fica o registro, para que os governos, os gestores e gestoras, as mães e os pais que assistem a estes comerciais, tenham um posicionamento propositivo diante dos novos desafios da vida, tornando as relações entre meninos e meninas prazerosas, respeitosas e acima de tudo, sem machismo, nem sexismo. Meninas e meninos podem brincar do que quiserem, e podem ser ainda mais do que os conceitos que o rosa e azul do Kinder Ovo quer que sejam.
Gláucia Helena de Souza
Professora de História e Assessora de Políticas de Gênero e Enfrentamento a Violência contra Mulheres.
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