Ele e dois amigos foram agredidos em
frente a Praça Ary Coelho, quando voltavam de festa em uma boate. Após a
violência, jovem iniciou campanha no facebook contra homofobia. Ele ainda
ficará 90 dias afastado do trabalho e se locomovendo com ajuda de cadeira de
rodas.
Não
pensei que tivesse esse tipo de violência e preconceito em Campo Grande”, diz o
jovem de 20 anos, que não quer se identificar, uma semana após ser vítima de
violência gratuita, no Centro da Capital, motivada por homofobia.
O
rapaz sofreu fratura no tornozelo em duas partes após ser pisoteado por um dos
agressores. Ele agora está na cadeira de rodas e, ao menos, pelos próximos 90
dias ficará afastado do trabalho.
Os
momentos de terror aconteceram na madrugada do último sábado, dia 14, quando ele,
o primo de 18 anos e um amigo de 21 anos voltavam de festa na boate Non Stop,
que fica no prédio da antiga rodoviária.
Por
volta das 5h30, os três passaram pelo cruzamento da Avenida Afonso Pena com a
rua 14 de Julho para pegar o ônibus na Praça Ary Coelho. A vítima conta que um
grupo de cerca de 5 ou 6 rapazes, vestidos com roupa de balada, estava
encostado nos tapumes do local e começou a xingar os rapazes.
“Ficaram
xingando a gente e gritando ‘olha as bichinhas vindo, bando de viadinho’”,
afirma o rapaz vítima de agressão.
O
rapaz e o amigo são homossexuais, mas ele afirma que não sabe por que o grupo
começou os xingamentos sobre a preferência sexual deles. “A gente não estava
fazendo nada e estávamos vestidos normalmente, mas talvez porque nossas roupas
eram coloridas e mais chamativas”, diz.
Com
isso, o jovem conta que questionou o grupo sobre o porquê de estarem
xingando-os, mas os agressores disseram que não era nada e começaram a rir.
O
rapaz afirma que foi embora, mas logo em seguida o grupo de rapazes voltou a
gritar xingamentos e o primo da vítima resolveu ir tirar satisfações.
“Ele
chegou numa boa, como eu também, mas aí um dos rapazes deu um soco na cara dele
e os outros começaram a chutar até derrubarem ele no chão”, diz.
Vendo
o primo ser agredido, o jovem foi ajudar e acabou também levando chutes e
socos. Ele afirma que foi jogado no chão e um dos agressores pisou em cima do
seu tornozelo várias vezes.
A
vítima diz que as agressões só terminaram porque um carro parou na contramão da
14 de julho e um dos ocupantes gritou “parem de brigar”. O jovem diz que foi
levantado do chão pelo amigo e não se lembra para onde os agressores fugiram.
“Meu
amigo me ajudou a levantar e fomos pegar o ônibus. Eu estava mancando, mas
achei que só tinha torcido o tornozelo”, diz.
No
ônibus, o jovem percebeu que o tornozelo começou a inchar e já não conseguia
mais mexer a perna. Ele foi levado direto para o posto de saúde e depois
encaminhado para o Hospital Universitário para aguardar cirurgia.
“Contei
com o apoio de alguns amigos pra me ajudar, porque no posto de saúde esperei
durante horas atendimento e depois não tinha como ir para o CEM (Centro
Especializado Municipal) tirar raio-x, disseram que a ambulância não podia
fazer o transporte”, frisa.
O
jovem ficou internado até a última quinta-feira (19) após passar por cirurgia
no tornozelo para colocar pino.
Campanha -
Pelo facebook, a agressão ao jovem deu início a uma corrente contra a
homofobia, iniciada por ele e amigos.
“Deu
uma repercussão maior do que eu esperava, gente até que eu não conhecia aderiu,
veio me prestar apoio”, diz.
Os
participantes trocaram a foto do perfil por uma imagem com a bandeira GLS e a
frase “homofobia é crime”. A proposta é ficar com a imagem até o dia 27 de
janeiro.
O
rapaz diz que decidiu não ficar calado sobre a violência com o objetivo de
impedir que outras pessoas sejam também vítimas de homofobia.
“Muitos
amigos meu também pediram para eu não deixar em vão o que aconteceu. É uma
violência gratuita, algo monstruoso”, diz.
No
último dia 9 o jovem Vitor Regis Amaral Saraiva, de 20 anos, registrou boletim
de ocorrência após ser agredido no mesmo local do Centro da Capital. Os autores
já foram identificado pela Polícia Civil.
Em
abril de 2011, um jovem de 21 anos também foi agredido por rapazes que estavam
em um carro. Um dos autores é filho do prefeito de Costa Rica.
Ele
frisa que ninguém é obrigado a aceitar ou aprovar a preferência sexual da outra
pessoal, mas tem a obrigação, sim, de respeitar.
“Existe
sim muito preconceito ainda. Muita gente não fala nada, mas só o jeito de
olhar, as risadinhas de lado já são constrangedoras”, diz.
O
jovem exemplifica que “não acho bonito dois homens se beijarem na rua, nem duas
mulheres, mas também não um homem e uma mulher. Acho que os direitos devem ser
iguais para todos”.
Ele ainda
não registrou boletim de ocorrência, mas garante que só está esperando
conseguir ir até a delegacia para registrar a violência.
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