sábado, 21 de janeiro de 2012

Jovem denuncia agressão por homofobia no Centro de Campo Grande


Ele e dois amigos foram agredidos em frente a Praça Ary Coelho, quando voltavam de festa em uma boate. Após a violência, jovem iniciou campanha no facebook contra homofobia. Ele ainda ficará 90 dias afastado do trabalho e se locomovendo com ajuda de cadeira de rodas.

Não pensei que tivesse esse tipo de violência e preconceito em Campo Grande”, diz o jovem de 20 anos, que não quer se identificar, uma semana após ser vítima de violência gratuita, no Centro da Capital, motivada por homofobia.

O rapaz sofreu fratura no tornozelo em duas partes após ser pisoteado por um dos agressores. Ele agora está na cadeira de rodas e, ao menos, pelos próximos 90 dias ficará afastado do trabalho.
Os momentos de terror aconteceram na madrugada do último sábado, dia 14, quando ele, o primo de 18 anos e um amigo de 21 anos voltavam de festa na boate Non Stop, que fica no prédio da antiga rodoviária.

Por volta das 5h30, os três passaram pelo cruzamento da Avenida Afonso Pena com a rua 14 de Julho para pegar o ônibus na Praça Ary Coelho. A vítima conta que um grupo de cerca de 5 ou 6 rapazes, vestidos com roupa de balada, estava encostado nos tapumes do local e começou a xingar os rapazes.
“Ficaram xingando a gente e gritando ‘olha as bichinhas vindo, bando de viadinho’”, afirma o rapaz vítima de agressão.
O rapaz e o amigo são homossexuais, mas ele afirma que não sabe por que o grupo começou os xingamentos sobre a preferência sexual deles. “A gente não estava fazendo nada e estávamos vestidos normalmente, mas talvez porque nossas roupas eram coloridas e mais chamativas”, diz.
Com isso, o jovem conta que questionou o grupo sobre o porquê de estarem xingando-os, mas os agressores disseram que não era nada e começaram a rir.
O rapaz afirma que foi embora, mas logo em seguida o grupo de rapazes voltou a gritar xingamentos e o primo da vítima resolveu ir tirar satisfações.
“Ele chegou numa boa, como eu também, mas aí um dos rapazes deu um soco na cara dele e os outros começaram a chutar até derrubarem ele no chão”, diz.
Vendo o primo ser agredido, o jovem foi ajudar e acabou também levando chutes e socos. Ele afirma que foi jogado no chão e um dos agressores pisou em cima do seu tornozelo várias vezes.
A vítima diz que as agressões só terminaram porque um carro parou na contramão da 14 de julho e um dos ocupantes gritou “parem de brigar”. O jovem diz que foi levantado do chão pelo amigo e não se lembra para onde os agressores fugiram.
“Meu amigo me ajudou a levantar e fomos pegar o ônibus. Eu estava mancando, mas achei que só tinha torcido o tornozelo”, diz.
No ônibus, o jovem percebeu que o tornozelo começou a inchar e já não conseguia mais mexer a perna. Ele foi levado direto para o posto de saúde e depois encaminhado para o Hospital Universitário para aguardar cirurgia.
“Contei com o apoio de alguns amigos pra me ajudar, porque no posto de saúde esperei durante horas atendimento e depois não tinha como ir para o CEM (Centro Especializado Municipal) tirar raio-x, disseram que a ambulância não podia fazer o transporte”, frisa.
O jovem ficou internado até a última quinta-feira (19) após passar por cirurgia no tornozelo para colocar pino.
Campanha - Pelo facebook, a agressão ao jovem deu início a uma corrente contra a homofobia, iniciada por ele e amigos.

“Deu uma repercussão maior do que eu esperava, gente até que eu não conhecia aderiu, veio me prestar apoio”, diz.
Os participantes trocaram a foto do perfil por uma imagem com a bandeira GLS e a frase “homofobia é crime”. A proposta é ficar com a imagem até o dia 27 de janeiro.
O rapaz diz que decidiu não ficar calado sobre a violência com o objetivo de impedir que outras pessoas sejam também vítimas de homofobia.
“Muitos amigos meu também pediram para eu não deixar em vão o que aconteceu. É uma violência gratuita, algo monstruoso”, diz.
No último dia 9 o jovem Vitor Regis Amaral Saraiva, de 20 anos, registrou boletim de ocorrência após ser agredido no mesmo local do Centro da Capital. Os autores já foram identificado pela Polícia Civil.
Em abril de 2011, um jovem de 21 anos também foi agredido por rapazes que estavam em um carro. Um dos autores é filho do prefeito de Costa Rica.
Ele frisa que ninguém é obrigado a aceitar ou aprovar a preferência sexual da outra pessoal, mas tem a obrigação, sim, de respeitar.
“Existe sim muito preconceito ainda. Muita gente não fala nada, mas só o jeito de olhar, as risadinhas de lado já são constrangedoras”, diz.
O jovem exemplifica que “não acho bonito dois homens se beijarem na rua, nem duas mulheres, mas também não um homem e uma mulher. Acho que os direitos devem ser iguais para todos”.
Ele ainda não registrou boletim de ocorrência, mas garante que só está esperando conseguir ir até a delegacia para registrar a violência.

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